sábado, 11 de setembro de 2010

Crônica: Seu hipócrita!






Observava-o de longe...não entendia o porquê de chamarem aquele rapaz de óculos fundo de garrafa, espinhas no rosto e nissei (descendente de japoneses) de inteligente. Achava que o estavam rotulando...


Certa vez, ouvia uma conversa do rapaz oriental, até que ouviu a palavra "hipócrita" sair de sua boca. Era sua chance de questioná-lo.

Com um tom ácido e irônico, perguntou:

-Por acaso você sabe o que é hipócrita, ô mané?!

O rapaz, surpreso, fitou-o por alguns instantes por cima de seus óculos grossos e retrucou:

-Não é preciso saber a definição de uma palavra pra entendê-la. O mais importante é entender o que ela quer dizer, não sua definição - SEU HIPÓCRITA!

O seu interlocutor quis retomar a posição de ataque, quando foi rapidamente interrompido:

-Definições, definições, não servem pra nada essas porcarias! - a definição de átomo por exemplo, foi mudada pelo menos umas cinco vezes! Leucipo, Dalton, Thomson, Rutherford, Böhr. Passou por toda essa gente pra chegar à definição que temos hoje...SEU HIPÓCRITA!

-Ah é? E qual seria essa definição, SEU HIPÓCRITA?

-Átomo: partícula fundamental da matéria. É divisível, não é maciço, composto por um núcleo e uma eletrosfera. Daí eu pergunto: se você não estudou nem gramática, (pra saber a definição das palavras) nem química, pra saber a utilidade de tudo isso, quem de nós dois é o mais hipócrita? SEU HIPÓCRITA!

O garoto ficou estático. Faltava-lhe o ar. Nada é mais duro do que ter consciência da sua própria hipocrisia.


(Crônica inspirada e em homenagem a Luis Fernando Veríssimo, fantástico cronista. )

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