Observava-o de longe...não entendia o porquê de chamarem aquele rapaz de óculos fundo de garrafa, espinhas no rosto e nissei (descendente de japoneses) de inteligente. Achava que o estavam rotulando...
Certa vez, ouvia uma conversa do rapaz oriental, até que ouviu a palavra "hipócrita" sair de sua boca. Era sua chance de questioná-lo.
Com um tom ácido e irônico, perguntou:
-Por acaso você sabe o que é hipócrita, ô mané?!
O rapaz, surpreso, fitou-o por alguns instantes por cima de seus óculos grossos e retrucou:
-Não é preciso saber a definição de uma palavra pra entendê-la. O mais importante é entender o que ela quer dizer, não sua definição - SEU HIPÓCRITA!
O seu interlocutor quis retomar a posição de ataque, quando foi rapidamente interrompido:
-Definições, definições, não servem pra nada essas porcarias! - a definição de átomo por exemplo, foi mudada pelo menos umas cinco vezes! Leucipo, Dalton, Thomson, Rutherford, Böhr. Passou por toda essa gente pra chegar à definição que temos hoje...SEU HIPÓCRITA!
-Ah é? E qual seria essa definição, SEU HIPÓCRITA?
-Átomo: partícula fundamental da matéria. É divisível, não é maciço, composto por um núcleo e uma eletrosfera. Daí eu pergunto: se você não estudou nem gramática, (pra saber a definição das palavras) nem química, pra saber a utilidade de tudo isso, quem de nós dois é o mais hipócrita? SEU HIPÓCRITA!
O garoto ficou estático. Faltava-lhe o ar. Nada é mais duro do que ter consciência da sua própria hipocrisia.
(Crônica inspirada e em homenagem a Luis Fernando Veríssimo, fantástico cronista. )
Caraaca!
ResponderExcluirMUITO BOM, menino.
Parabéns!! ;)