domingo, 8 de agosto de 2010

Crônica: o jogo, o poder.



            Certa vez eu estava jogando um desses mini-games para celular,o jogo  da cobrinha, cujo objetivo é acumular mais e mais pontos, deixando-nos viciados e cada vez mais ambiciosos. "Eu vou bater os meus recordes, eu vou poder falar que eu consegui tantos milhões de pontos, hahaha" - esses eram os pensamentos que me vinham à cabeça e me davam a força de vontade de alguém que queria dominar o mundo.
      Na verdade eu tinha me dado conta poucas vezes do quanto um simples jogo muda o nosso comportamento. Enquanto entretidos, nos desligamos momentâneamente da realidade e deixamos o nosso espírito competitivo - que vem do nosso ego, da nossa animalidade - nos dominar um pouco: começamos a gritar palavrões, gritamos coisas que não fazem sentido algum...ou simplesmente...gritamos.
       Na Idade da Pedra o homem era acostumado a competir para sobreviver, seja correndo atrás de uma caça, seja lutando contra as condições climáticas, fugindo do frio ou calor excessivo - o que não deixa de ser uma competição. Mas será que essa euforia pela vitória ou pela "acumulação de pontos" vêm dessa primitividade?
       O homem nunca conseguiu lidar muito bem com essa tal "acumulação de pontos" aliás, o tal do poder. Impérios majestosos da Antiguidade foram à ruína por causa da falta de inteligência e, por que não, equilíbrio emocional dos governantes. O poder? Ele é maravilhoso! Faz ferver o sangue dos mais despreparados mentalmente, ilude, deslumbra, acaricia o ego daqueles que querem ter a habilidade de estalar os dedos e...PÁ! Tudo se tornar agradável e fantástico.
     Por exemplo, o nosso sistema de governo é uma república parlamentarista. Quando criança, perguntava: uai, mas por que o presidente não pode "mandar" em tudo? Por que ele não pode mandar acabar com a fome, com as guerras, com os bandidos, com tudo que é ruim? - simples, não é ele que decide tudo. Os projetos e ideias devem passar pelo Congresso, ou seja, por um grupo de pessoas, teoricamente unidas para resolver as coisas e dividir a carga de poder com o presidente. 
     Justamente para evitar a arbitrariedade e inconsequência que o acúmulo de poder pode provocar em um governante, existe a divisão entre Poder Executivo, Legislativo e Judiciário.
    Enquanto jogava e me dava conta de todo esse princípio de surto, sosseguei e desisti de tentar comandar a cobrinha. Só o fato de eu poder comandar aquela criaturinha virtual era...digamos, perigoso demais.

Um comentário:

  1. Taí uma coisa que eu "ainda" tenho que parar pra pensar muito. Nunca fui de "poder", sempre fui de pisarem em mim e me jogarem na lata do lixo. Ô! Me vê aí uma porção de "poder" no capricho, mô cumpradre?

    Adorei, Milhouse!

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